Pesquisadores brasileiros podem ter descoberto a única espécie de anfíbio do mundo capaz de realizar a polinização

Pesquisadores brasileiros podem ter descoberto a única espécie de anfíbio do mundo capaz de realizar a polinização

11/04/2023 0 Por cetico.kf

Quase todas as espécies de anfíbios do mundo são carnívoras, sendo os insetos os protagonistas principais na dieta desses bichos. Mas a natureza tem sempre suas exceções e sabe-se que, embora raro, alguns sapos são capazes de se alimentar de plantas.

É o caso da perereca-comedora-de-frutos (Xenohyla truncata). Essa pequenina brasileira, de cerca de cinco centímetros, vive exclusivamente em áreas de restinga do Rio de Janeiro e, por conta disso, corre risco de extinção à medida que a expansão imobiliária ameaça o habitat.

Com base exclusivamente em análises estomacais de indivíduos dessa espécie que estavam em coleções, pesquisadores já tinham descoberto que essa perereca possuía uma dieta onívora , se alimentando também diversas estruturas das plantas, além dos invertebrados.

A preferência por frutas faz dessa perereca uma importante dispersora de sementes, característica única em anfíbios pós-metamórficos (em fase depois da metamorfose).

Presença de pólen no dorso do anfíbio foi a principal descoberta do estudo — Foto: Henrique Nogueira

Presença de pólen no dorso do anfíbio foi a principal descoberta do estudo — Foto: Henrique Nogueira

Mas a novidade agora vai além. O animal foi filmado, pela primeira vez, realizando esse tipo de alimentação, o que acarretou informações inéditas.

“Estava realizando um monitoramento em Búzios quando, por sorte, consegui encontrar cerca de 10 ‘Xenohyla truncata’ se alimentando nas plantas. Na hora fiquei animado já que é um animal raro de se ver e passei a noite toda monitorando o comportamento alimentar do grupo”, conta o especialista em anfibíos Henrique Nogueira.

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De acordo com o pesquisador, as pererecas não só comeram diferentes partes da planta durante o período que as acompanhou, como frutas maiores (antes acreditava-se que só consumiam frutos pequenos, já que não mastigam) e pétalas, mas também foram flagradas sugando néctar.

“A maior descoberta, no entanto, foi observar que, quando a perereca entrava em flores maiores para achar o néctar, acabava saindo com grãos de pólen aderidos ao dorso, o que torna essa espécie uma potencial polinizadora, algo que seria inédito no mundo dos anfíbios”, explica.

A polinização seria uma ajuda extra para a natureza, já que o objetivo da perereca provavelmente é a ingestão de néctar durante a estação reprodutiva, que, segundo o pesquisador, pode beneficiar indivíduos sob alta demanda energética. “Este é um exemplo único e notável de interações imprevistas entre anfíbios e plantas”, afirma.

O artigo também comprovou que a perereca é capaz de se alimentar de frutas maiores do que se pensava  — Foto: Henrique Nogueira

O artigo também comprovou que a perereca é capaz de se alimentar de frutas maiores do que se pensava — Foto: Henrique Nogueira

Com todas essas descobertas e flagrantes, Henrique uniu oito colaboradores e escreveu em conjunto deles um artigo científico recém-publicado na Food Webs.

“Esse artigo abre espaço para muitos outros estudos que precisam ser feitos para continuarmos descobrindo informações sobre a espécie. Precisamos entender melhor se ela possui adaptações para a sucção do néctar e se ela é capaz de consumir qualquer espécie de planta disponível ou apenas algumas exclusivas da restinga”, esclarece.

A perereca-comedora-de-frutas é endêmica da Mata Atlântica e vive em áreas de restinga do Rio de Janeiro — Foto: Henrique Nogueira

A perereca-comedora-de-frutas é endêmica da Mata Atlântica e vive em áreas de restinga do Rio de Janeiro — Foto: Henrique Nogueira

Perereca-comedora-de-frutas (Xenohyla truncata)

Endêmica da Mata Atlântica, essa perereca é considerada como espécie Vulnerável (VU) à extinção e ‘Quase Ameaçada’ a nível internacional pela IUCN.

Vive exclusivamente no estado do Rio de Janeiro e passa a maior parte do tempo abrigada dentro de bromélias, que não consome e apenas usa como proteção.

A reprodução acontece em poças de água esporádicas e a alimentação à noite a base de uma dieta onívora.

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