Planeta que não existe acabaria com a vida na Terra

Planeta que não existe acabaria com a vida na Terra

10/03/2023 0 Por cetico.kf

Falta um planeta no Sistema Solar?

Nosso Sistema Solar tem dois enigmas que a ciência planetária tem tido grandes dificuldades em explicar.

O primeiro é que o maior planeta rochoso é a Terra, e o menor gigante gasoso é Netuno, que é quatro vezes maior e 17 vezes mais massivo do que a Terra – não há nada entre os dois.

Em comparação, os sistemas planetários que estudamos até agora estão cheios de planetas nesse intervalo, que se convencionou chamar de super-terras.

O outro enigma envolve o enorme espaço vazio entre Marte e Júpiter, espaço de sobra para outro planeta.

Como parece um grande desperdício de terreno, o astrofísico Stephen Kane, da Universidade da Califórnia de Riverside, decidiu simular como seria o Sistema Solar se de fato houvesse outro planeta entre Marte e Júpiter, fosse ele um planeta rochoso como a Terra ou mesmo uma super-terra.

E o resultado foi algo bem próximo do assustador: Na verdade, nós não estaríamos aqui para testemunhar a existência desse vizinho porque ele traria o caos ao Sistema Solar como o conhecemos.

“Esse planeta fictício dá uma cutucada em Júpiter que é suficiente para desestabilizar todo o resto,” contou Kane. “Apesar de muitos astrônomos terem desejado esse planeta extra, é uma boa coisa que não o tenhamos.”

Com uma massa que é 318 vezes a da Terra, Júpiter é muito maior do que todos os outros planetas juntos. Ou seja, sua influência gravitacional é profunda. Assim, seja uma super-terra, uma estrela passageira ou qualquer outro objeto celeste que viesse a perturbar Júpiter, mesmo que levemente, todos os outros planetas seriam profundamente afetados.

Planeta que não existe traria caos ao Sistema Solar

Vista de cima para baixo das órbitas planetárias do Sistema Solar (linhas sólidas) até a órbita de Júpiter. A região sombreada em vermelho indica os locais em que foi colocado o planeta adicional.
[Imagem: Stephen R. Kane – 10.3847/PSJ/acbb6b]

Tudo está bem como está

Não é uma simulação simples, porque é necessário levar em conta como esse hipotético corpo celeste interagiria gravitacionalmente com todos os outros. Kane variou tanto a posição quanto o tamanho do planeta hipotético, atribuindo-lhe massas entre 1 e 10 vezes a massa da Terra.

Nos cenários menos dramáticos, a super-terra mudaria a forma da órbita da Terra, tornando-a muito menos habitável do que é hoje, se não acabando completamente com a possibilidade de vida. E, dependendo da massa e localização exata da hipotética super-terra, sua presença poderia expulsar Mercúrio e Vênus ou até mesmo a própria Terra do Sistema Solar. Ela também poderia desestabilizar as órbitas de Urano e Netuno, lançando-os igualmente no espaço sideral.

Assim, preencher o que parece ser um desperdício de espaço entre Marte e Júpiter na verdade criaria vazios muito maiores no Sistema Solar interno.

Os resultados de suas simulações deram a Kane um renovado respeito pela delicada ordem que mantém os planetas juntos ao redor do Sol: “Nosso Sistema Solar está mais afinado do que eu imaginava antes. Tudo funciona como as intrincadas engrenagens de um relógio. Jogue mais engrenagens na mistura e tudo quebra.”

Bibliografia:

Artigo: The Dynamical Consequences of a Super-Earth in the Solar System
Autores: Stephen R. Kane
Revista: The Planetary Science Journal
Vol.: 4, Number 2
DOI: 10.3847/PSJ/acbb6b