
A desconhecida extinção em massa que mudou a Terra e permitiu que os dinossauros dominassem o planeta
27 de abril de 2022
Este episódio desencadeou a ‘era dos dinossauros’, que durou 165 milhões de anos
Enormes erupções vulcânicas há 233 milhões de anos lançaram dióxido de carbono, metano e vapor d’água na atmosfera.
Essa série de explosões violentas, na região onde hoje está a costa oeste do Canadá, levou a um aquecimento global massivo.
Nossa nova pesquisa revelou que este foi um evento de extinção em massa que alterou o planeta, matou muitos dos tetrápodes dominantes e anunciou a aurora dos dinossauros.
A extinção em massa mais conhecida ocorreu no final do período Cretáceo, há 66 milhões de anos. Foi quando os dinossauros, pterossauros, répteis marinhos e amonoides morreram.
Esse evento foi causado principalmente pelo impacto de um asteroide gigante que escureceu a luz do sol e causou escuridão e congelamento, seguido por outras perturbações maciças dos oceanos e da atmosfera.
Geólogos e paleontólogos concordam com uma lista de cinco desses eventos, dos quais a extinção em massa do fim do Cretáceo foi o último. Portanto, nossa nova descoberta de uma extinção em massa até então desconhecida pode parecer inesperada.
No entanto, esse evento, denominado Carnian Pluvial Episode (CPE), parece ter matado tantas espécies quanto o asteroide gigante matou. Os ecossistemas terrestres e marítimos foram profundamente alterados, à medida que o planeta ficou mais quente e seco.
Em terra, isso desencadeou mudanças profundas nas plantas e nos herbívoros. Por sua vez, com o declínio dos tetrápodes herbívoros dominantes, como rincossauros e dicinodontes, os dinossauros tiveram sua chance.
Os dinossauros se originaram cerca de 15 milhões de anos antes e nosso novo estudo mostra que, como resultado do CPE, eles se expandiram rapidamente nos 10 milhões a 15 milhões de anos subsequentes e se tornaram a espécie dominante nos ecossistemas terrestres. O CPE desencadeou a “era dos dinossauros”, que durou mais 165 milhões de anos.
Não foram apenas os dinossauros que tiveram uma oportunidade. Muitos grupos de tetrápodes modernos, como tartarugas, lagartos, crocodilos e mamíferos, datam dessa recém-descoberta época de revolução.
Seguindo as pistas
Este evento foi notado pela primeira vez, de forma independente, na década de 1980. Mas pensava-se que estava restrito à Europa.
Primeiro, geólogos na Alemanha, Suíça e Itália reconheceram uma grande rotatividade entre as faunas marinhas há cerca de 232 milhões de anos, denominado Rheingraben.

Legenda da foto,Este evento parece ter matado tantas espécies quanto o asteroide gigante
Então, em 1986, reconheci isso independentemente como uma mudança em escala global entre tetrápodes e amonoides. Mas, naquela época, o processo de determinação da idade era muito mais fraco do que agora e era impossível ter certeza se ambos eram o mesmo evento.
As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar quando um episódio de cerca de 1 milhão de anos de climas úmidos foi reconhecido em todo o Reino Unido e em partes da Europa pelos geólogos Mike Simms e Alastair Ruffell. Então, o geólogo Jacopo dal Corso identificou uma coincidência no momento do CPE com o pico das erupções dos basaltos de Wrangellia.
Wrangellia é um termo que os geólogos dão a uma placa tectônica estreita que está ligada à costa oeste do continente norte-americano, ao norte de Vancouver e Seattle.
Finalmente, em uma revisão das evidências de rochas com idade triássica, a assinatura do CPE foi detectada — não apenas na Europa, mas também na América do Sul, América do Norte, Austrália e Ásia. Este estava longe de ser um evento exclusivo para a Europa. Foi global.
Erupções vulcânicas
As enormes erupções de Wrangellia liberaram dióxido de carbono, metano e vapor d’água na atmosfera, levando ao aquecimento global e ao aumento das chuvas em todo o mundo.
Houve até cinco pulsos de erupções associadas a picos de aquecimento de 233 milhões de anos atrás. As erupções levaram à chuva ácida, pois os gases vulcânicos se misturaram à água da chuva para banhar a Terra em ácido diluído. Oceanos rasos também sofreram acidificação.

O forte aquecimento expulsou plantas e animais dos trópicos e a chuva ácida matou plantas em terra, enquanto a acidificação do oceano atacou todos os organismos marinhos com esqueletos carbonáticos. Isso removeu a superfície dos oceanos e da terra.
A vida pode ter começado a se recuperar, mas quando as erupções cessaram, as temperaturas permaneceram altas enquanto as chuvas tropicais cessaram. Isso é o que causou a subsequente secagem da terra em que os dinossauros floresceram.
O mais extraordinário foi a reformulação da fábrica de carbonato marinho. Esse é o mecanismo global pelo qual o carbonato de cálcio forma grandes espessuras de calcários e fornece material para organismos como corais e moluscos construírem suas conchas.
O CPE marcou o início dos recifes de coral modernos, bem como de muitos dos grupos modernos de plâncton, sugerindo mudanças profundas na química dos oceanos.

Antes do CPE, a principal fonte de carbonato nos oceanos vinha de ecossistemas microbianos, como montes de lama dominados por calcário, nas plataformas continentais.
No entanto, depois do CPE, isso passou a ser impulsionado por recifes de coral e plâncton, onde novos grupos de microrganismos, como dinoflagelados, apareceram e floresceram.
Essa mudança profunda nos ciclos químicos fundamentais dos oceanos marcou o início dos ecossistemas marinhos modernos.

E haverá lições importantes sobre como ajudamos nosso planeta a se recuperar das mudanças climáticas. Os geólogos precisam investigar os detalhes da atividade vulcânica de Wrangellia e entender como essas erupções repetidas impulsionaram o clima e mudaram os ecossistemas da Terra.
Houve uma série de extinções em massa induzidas por vulcanização na história da Terra e as perturbações físicas, como aquecimento global, chuva ácida e acidificação dos oceanos, estão entre os desafios que vemos hoje.
Os paleontólogos precisarão trabalhar mais de perto com os dados de registros fósseis marinhos e continentais. Isso nos ajudará a entender como a crise se desenrolou em termos de perda de biodiversidade, mas também a explorar como o planeta se recuperou.
*Michael J. Benton é professor de paleontologia de vertebrados na Universidade de Bristol.
Este artigo foi publicado originalmente em The Conversation e é reproduzido sob a licença Creative Commons. Clique aqui para ler o artigo original, em inglês.