Trump chama Bolsonaro de homem honesto e diz que Lula é ga…Ver mais

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19/08/2025 0 Por cetico.kf

A relação entre Brasil e Estados Unidos nunca foi simples. Em diferentes momentos da história, os dois países oscilaram entre proximidade estratégica e tensões declaradas. Mas os últimos dias mostraram que o fio que conecta Brasília e Washington continua esticado, prestes a se romper ou a se reinventar — e, como sempre, carregado de política, economia e narrativas pessoais.

Na Casa Branca, Donald Trump voltou a fazer o que sabe melhor: transformar declarações em bombas diplomáticas. Chamou o Brasil de “péssimo parceiro comercial”, acusou o país de impor tarifas abusivas contra mercadorias norte-americanas e anunciou medidas que podem elevar em até 50% as taxas sobre determinados produtos brasileiros. Na prática, um movimento que atinge diretamente exportadores brasileiros e pode reabrir uma guerra comercial que parecia contida desde o início da gestão Lula.

“Eles nos tratam mal. É injusto, é desleal”, disparou Trump, em tom que mistura indignação com cálculo eleitoral. A retórica protecionista, marca de sua trajetória política, volta a se intensificar justamente em um momento em que os Estados Unidos enfrentam desafios internos de competitividade e, externamente, a sombra cada vez mais presente da China no comércio latino-americano.

Bolsonaro como bandeira política

Mas a fala do republicano não parou na economia. Em um gesto que escancarou as fronteiras entre comércio e ideologia, Trump decidiu transformar Jair Bolsonaro em peça de sua própria narrativa política. Defendeu publicamente o ex-presidente brasileiro, hoje em prisão domiciliar, classificando-o como “um homem honesto” e “lutador pelo povo brasileiro”.

Não foi apenas solidariedade entre aliados de extrema direita: foi cálculo político. Ao falar em “execução política” para descrever o processo contra Bolsonaro, Trump buscou se alinhar, mais uma vez, com o discurso de perseguição judicial que ele próprio mobiliza em sua defesa dentro dos EUA. Um caso serve de espelho para o outro.

Para seus apoiadores, a mensagem é clara: se Bolsonaro é vítima de um sistema corrupto, Trump também seria vítima de seus inimigos internos. Assim, a política externa se mistura com a política doméstica — tanto em Brasília quanto em Washington.

Lula reage: soberania em jogo

Do outro lado do Atlântico, em Brasília, a resposta veio carregada de diplomacia, mas não sem firmeza. Questionado sobre os ataques de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou que o Brasil buscará diálogo para evitar que a escalada tarifária se transforme em uma crise diplomática aberta.

“A única exigência é que nossa soberania seja respeitada”, disse Lula, em tom calculado: o suficiente para reafirmar independência, mas sem fechar as portas para futuras negociações. O petista sabe que, em momentos assim, cada palavra dita pode influenciar não apenas os rumos da diplomacia, mas também os humores do mercado interno e da base política.

Direitos humanos como combustível da crise

Se o tema comercial já era espinhoso, um relatório divulgado pelo Departamento de Estado dos EUA adicionou gasolina ao fogo. O documento, elaborado ainda durante a gestão Trump, acusa o Brasil de retrocessos em direitos humanos e cita especificamente decisões do ministro Alexandre de Moraes como exemplos de restrições à liberdade de expressão e ao acesso à internet.

A inclusão dessas críticas elevou a tensão a outro patamar. Não se trata mais apenas de tarifas ou elogios pessoais a Bolsonaro, mas de ingerência direta em temas da política interna brasileira. Para o governo Lula, esse ponto é especialmente sensível: a defesa da democracia e a legitimidade das instituições são pilares de sua narrativa internacional.

Uma relação em espiral

Analistas ouvidos pela imprensa avaliam que o momento é de alta instabilidade na relação bilateral. Conflitos comerciais entre Brasil e EUA não são novidade; já ocorreram em diferentes setores ao longo das últimas décadas, de aço a etanol. Mas o que diferencia o cenário atual é a sobreposição de temas econômicos, políticos e ideológicos em um mesmo tabuleiro.

Trump, ao mirar o Brasil, não fala apenas de tarifas: fala para seu eleitorado interno, para a extrema direita global e para aliados como Bolsonaro. Lula, ao responder, não defende apenas exportadores: defende sua própria autoridade como chefe de Estado soberano diante de um ex-presidente que ainda mobiliza massas.

O tabuleiro geopolítico

No pano de fundo, a disputa maior continua sendo a presença da China. Trump deixou claro que não teme a aproximação latino-americana com Pequim, mas seus gestos mostram justamente o contrário: tarifas, discursos inflamados e relatórios críticos são formas de conter a expansão chinesa em regiões onde os EUA sentem que estão perdendo terreno.

Para o Brasil, a equação é delicada. Aproximar-se demais de Washington pode significar abrir mão da margem de manobra conquistada com Pequim. Mas confrontar frontalmente os EUA pode significar retaliações em setores estratégicos.

Mais que comércio, uma disputa de narrativas

No fim, o episódio revela menos sobre tarifas e mais sobre narrativas. Para Trump, trata-se de reafirmar seu discurso de perseguição e projetar força diante do eleitorado americano. Para Bolsonaro, um alívio simbólico: ainda preso, mas defendido por um dos líderes mais influentes do mundo. Para Lula, um desafio constante: equilibrar pragmatismo diplomático com a reafirmação da soberania nacional.

O fio que conecta tudo isso é o mesmo que, historicamente, move as relações entre Brasil e Estados Unidos: uma combinação explosiva de economia, política e ideologia.